sábado, 24 de novembro de 2007

domingo, 4 de novembro de 2007

#1 Do Amor

Gostava neste post, de perceber as diferenças que os nossos dois países encontram nesse tão original, diferente, nunca discutido e nada universal tema... sim, o AMOR!
(em duas vertentes: o amor dito e o amor real, passo a explicar de seguida..)

Isto porque li uma crónica do Arnaldo Jabor, conhecido cronista brasileiro, em relação ao dito, no livro "Amor é prosa, Sexo é poesia".
Normalmente, acho uma seca (em brasuca, um saco) esses emails com lindas paisagens e músicas de fundo, que falam do Amor e da Amizade e de todos esses sentimentos mais nobres. E todas esses textos, descrições, poemas, teses para decifrar a misteriosa fórmula do verdadeiro amor..
Concordo, esses são realmente os sentimentos mais importantes nas nossas vidas, mas sinceramente, não tenho paciência e não chego sequer a abrir a maioria deles.. Certamente não sou a única!!
Primeiro, porque são todos iguais ok...mas depois, e era aí que queria chegar, porque acho que isso é uma característica que a minha cultura portuguesa me passou..

Nós portugueses, somos assim. Odiamos pieguisses e lamechices (isto existe?!). Gostamos muito mais de uma piadinha no tempo certo. E se nos compararmos aos brasileiros, vamos da água para o vinho. Nós simplesmente não sabemos falar de amor... Achamos tudo absurdo quando, talvez nós é que talvez sejamos absurdos por não sabermos falar de sentimentos. E achamos absurdas todas e quaisquer tentativas para fazê-lo. Um exemplo óbvio do que tento dizer é a facilidade com que eles se expressam uns aos outros quando gostam, quando se "amam". "Te amo" é dito com tanta naturalidade como "vou comprar pão" ou "gostei da tua blusa". E se eles se amam mesmo (para eles basta gostar muito para se amar) porque não dizê-lo? Nós aqui demoramos um pouquinho mais para "amar".. Porque o nosso "amar" é mais profundo.
É uma palavra com bem mais peso e há algumas pessoas (tipicamente homens!) que nunca têm realmente coragem de dizê-la...

Agora uma coisa são os emails e mesmo as palavras. Daí a distinção entre o "amor dito" e o "amor real". Usar mais ou menos uma palavra não significa nada em matéria de sentimento. É uma diferença linguística natural entre tantas dos nossos dois "portugueses" (língua). Outra coisa então para se comparar é a forma como cada país vive o "amor real". Apesar de universal, acho que este sentimento vive-se de maneiras diferentes (e sim estou a generalizar! já se sabe que há sempre excepções..) nas duas culturas. Depois de morar um tempo no Brasil, percebi isso, mais do que qualquer "pre conceito" (de conceito à anteriori e não de ideia negativa) me pudesse dizer. No Brasil, e aí confirma-se parte do tal pre conceito ou estereotipo, querendo, realmente tudo acontece muito rápido. Fugaz. Vivo. Intenso. Carnal por consequência. Mas não necessariamente menos sentimental, digo eu... Mas o corpo é efectivamente um objecto do amor mais "abertamente usado" mais acessível e desmistificado. Daí o extremo culto da imagem, as plásticas, as unhas, os salões de beleza em todas as esquinas. Isso não significa nem um pouco que não hajam relações sérias. Mas realmente há mais predisposição e dedica-se mais tempo aos sentimentos. E aí tando estou a falar de amor como de amizade. Lá o emocional bate a larga escala o racional. Tal e qual as novelas.. Eles vivem para as relações. Nos intervalos, têm outras coisas (realmente) secundárias na vida, como o trabalho (porque os sentimentos não alimentam!) e outras ocupações.
Assim sendo, parece que têm as prioridades bem definidas. Não pensam tanto no amanhã. E, diga-se de passagem, são bem mais felizes que nós! Pelo menos parecem ou sabem transmiti-lo.. Alguns sambas explicam muito melhor o que tento aqui dizer...

Por isso que gostei da abordagem do Arnaldo Jabor nesta crónica.
Muito arriscado falar de sentimentos mais 'poderosos' ou 'profundos', quando se tem uma postura habitualmente sarcástica, irónica, racional, polémica (às vezes implacável), típica dos cronistas, sem cair no erro de parecer insensível, idiota, mal amado ou simplesmente frustrado nos sentimentos.
Desta forma, acho que a visão científica que ele nos dá, uma hipotética explicação para esse grande mistério que é o Amor, consegue fugir a todas essas armadilhas e deixa-nos a pensar (e como bom português diz!): Pá! Até que faz sentido..

Assim transcrevo partes da crónica que gostei mais:

"O amor impossível é o verdadeiro amor"

"Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram, dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta "profunda".
Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho conhecido, um amor datado,
um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o "eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. (...) A cultura americana está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.
Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo "feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/ mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde ninguém sabe".
Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem sabem.
(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias;
esse amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em compasso com o universo.
Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo sexo, que as dividiu.
("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado. Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.
Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega.
Ser impossível é sua grande beleza.
(...)
Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver. Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito.
O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais."

sábado, 20 de outubro de 2007

Ribeira Negra -Porto
por
Mestre Júlio Resende VER





Nesta cidade onde no sítio mais absurdo

num sentido proibido ou num semáforo

todos os poentes me dizem quem tu és


Manuel Alegre

domingo, 14 de outubro de 2007

Introdução

"-Maurette, porque não escrevemos sobre um mesmo tema?"
Eu, com a minha visão de portuguesa..E vc, de brasileira.
-Beleza! Então porque não escreves uma crónica sobre o isopor, já que eu escrevi do esferovite.."
Hummm, eu não sou cronista pelo menos não de crónicas, serei talvez de crónicos. Pensamentos crónicos que me assaltam e sobre os quais gosto de escrever.. Mas 'topei na hora', não sou de desperdiçar estes desafios. Pelo menos de não tentar! Daí que..
"Pode ser!"

Mas.. o que têm em comum, uma miúda portuguesa de 26 anos, que vive na pacata Barcelos-Portugal, com uma mulher um pouquinho mais 'experiente', jornalista, que vive simplesmente numa das cidades mais fantásticas do mundo (ou não fosse 'a maravilhosa'!) - para os mais desatentos, Rio de Janeiro-Brasil.
Aparentemente nada. Se olharmos mais de perto, talvez um pouquinho. Eu vivi um ano e meio no Brasil. Poderia ter sido só uma experiência. Mas foi bem mais que isso. Daquelas experiências-marcas de sangue, que ficam. E que transformam. Sinto-me uma pessoa diferente depois de estar lá este tempo. Não digo nunca e quem sabe um dia volto.
Ela esteve já em Portugal e é uma apaixonada por este rectângulo à beira mar plantado.

Depois, o Jorge Palma que ambas gostamos muito. Ambas tivemos já oportunidade de conhecê-lo pessoalmente (embora ele de mim não se lembre de certeza!!)
Achei curioso alguém brasileiro gostar assim das músicas do Jorge Palma. Isto porque, na minha 'missão' de difusão da cultura portuguesa no Brasil, o JP foi dos 'incompreendidos', ninguém gostou lá muito..e eu dizia..mas presta atenção nessa letra...não adiantou. Culturas diferentes. E uma produção musical como mais nenhum país tem (o Brasil) podem justificar a 'esquisitisse' quanto à música do JP. Afinal, ele é um bocadinho alternativo.. Foram mais nos nossos 'comerciais': Madredeus, Clã, Mafalda Veiga, João Pedro Pais, vinho do Porto...=)
Mas isso vai mudar de certeza com uma iminente (e eminente!) digressão do JP pelo Brasil!

Sobre o blog, não terei muito tempo para escrever aqui (a velha desculpa ocidental!) mas mais ou menos, melhor ou pior, tentarei dar um contributo luso e ainda nordestino (para manter o ritmo... =))


Assim começa esta ponte literária luso-brasileira.

E são 7h de viagem transformadas num click!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Agora chegamos juntas!

Fotos: V.Ribeiro (Barcelos), ArrobaJunior (Rio de Janeiro), Vitor Cabral de Oliveira (Lisboa e Figueira da Foz)


Silvia e eu fizemos ontem uma experiência interessante em nossos blogs individuais: escrevermos a visão de cada uma sobre um mesmo tema. O resultado disso foram os artigos Esferovite e Do Isopor, que a gente curtiu muito fazer.
Silvia, jovem engenheira de Barcelos, viveu um bom tempo no Brasil, na divina Fortaleza. E adorou, a julgar por seus relatos incríveis. Eu sou jornalista, tradutora e produtora cultural, e vivo no Rio de Janeiro. A gente se conheceu na net porque as duas gostam muito do cantor e compositor português Jorge Palma.
Depois do sucesso de ontem eu me lembrei desse blog, que tinha criado há algum tempo.
O nome, "Guardados e Achados", tem a ver com lembranças, memória, visões de mundo de quem anda por aí a conhecer gente, culturas e emoções novas.
Então pensei: porque não cultivá-lo justamente com essa troca de experiências, com a nossa vontade de aproximar as culturas e mostrar que a diversidade tem, na verdade, um grande poder de unir pessoas?
A Silvia topou na hora. E as minhas amigas portuguesas Cristina Santos e Isabel Caldeira, ambas artísticas, poéticas e blogueiras, cabem muito bem dentro desse conceito. Afinal, a nossa amizade sem fronteiras não tem feito justamente isso?
Pois então estamos aqui, juntas, aportando com nossos guardados, os achados de hoje e os que ainda virão.
O que a gente quer mesmo é incentivar os muitos "encontros" entre a alma lusa e a brasileira. Viva, pois, a diversidade e abaixo a diferença!
Temos a certeza de que os nossos amigos, os amigos destes e quem mais aparecer vão gostar de mais esse espaço para um livre e amoroso intercâmbio cultural e literário lusófono :)!
Bem-vindos, pois!